DIVAS DOS ANOS 60/70: INTEGRANTES DAS THE SUPREMES ESTÃO HÁ 35 ANOS EM UMA NOVA VERSÃO DO GRUPO

João Carneiro
24 min readJan 24, 2021

Scherrie Payne e Susaye Greene (última cantora líder e última integrante das Supremes, respectivamente) compõem a formação atual ao lado de Joyce Vincent, da banda Tony Orlando and Dawn. Em um bate papo nostálgico, as cantoras falam um pouco de suas vivências e experiências ao longo dos anos, e também durante esta época de isolamento social.

Símbolo de uma era, vozes que inspiraram e inspiram gerações; O grupo vocal The Supremes — conhecido por ser o maior grupo feminino da história- permaneceu em atividade até o ano de 1977, quando a suprema original Mary Wilson decidiu seguir carreira solo. Ao todo, 9 cantoras passaram pelo grupo, sendo quatro delas integrantes originais.

Capa em comemoração ao vigésimo aniversário da Motown. A cantora Barbara Martin não foi mencionada na capa.

Oito anos depois do fim da banda, Scherrie Payne — conhecida por ser a última cantora líder do grupo — foi contratada pela gravadora Super Star International Records, que lançou a proposta de recriar o renomado girl group. Não demorou muito para que isso acontecesse; Alguns meses depois, as supremas Jean Terrell e Cindy Birdsong estavam juntas à Scherrie em uma nova versão da banda.

As primeiras integrantes foram Scherrie Payne, Jean Terrell e Cindy Birdsong, que saiu prematuramente para iniciar uma carreira solo. Em seu lugar, entrou a cantora Lynda Laurence que também a substituiu nas The Supremes, em 1972.

Apesar do grupo inicialmente ter sido composto por ex-supremas, outras cantoras — não supremas — também se juntaram para substituir as integrantes que saíam. E não é que a coisa ficou familiar? A primeira substituta foi Sundray Tucker, irmã de Lynda Laurence. Nos anos 60, Sundray foi substituída por Cindy Birdsong no grupo musical The Ordettes, que mais tarde se chamaria Patti LaBelle & The Bluebelles.

Freddi Pool, atualmente integrante das Three Degrees, e Joyce Vincent, integrante orginal do grupo Tony Orlando and Dawn, também se juntaram ao grupo para preencher o lugar deixado por Terrell.

Ao todo, oito cantoras passaram pelas F.L.OS, sendo 5 delas integrantes oficiais das The Supremes

Nos anos 2000, Scherrie Payne e Lynda Laurence foram recrutadas para participar de uma turnê com Diana Ross — conhecida por ser a suprema-mor. A turnê “Return To Love” marcou o fim do século XX e também a carreira das cantoras pelo fato de ser uma nova formação do grupo, já que as cantoras entraram para o grupo anos depois da saída de Ross. A turnê lhes renderam inúmeras participações em renomados programas, como o The Oprah Winfrey Show.

Diana Ross and The Supremes 2000 durante a turnê “Return To Love” / Fonte: Pinterest

Em 2017, Lynda deixou o grupo após trinta e um anos para explorar novos ramos na indústria da música, em seu lugar, entrou Susaye Greene, conhecida por ser a última Suprema. A partir do momento em que Greene entrou, o grupo passou a se chamar Scherrie and Susaye, Formerly of The Supremes with Joyce Vincent. A adição de Susaye ao grupo foi recebida com amor e entusiasmo pelos fãs. Além, claro da ansiedade para escutar os clássicos de 1976–77 na voz de duas integrantes da era.

Depois de várias formações, discos de ouro e platina e turnês ao redor do mundo; o grupo permanece ativo por mais de 3 décadas. As damas supremas continuam a fazer uma boa música, trazendo nostalgia e o poder da black music aos corações dos fãs em diferentes partes do mundo.

Scherrie Payne, Susaye Greene & Joyce Vincent performam no Casino Kursaal in Oostende, Belgium / Fonte: Scherrieandsusayeformersupremes.com

Antes de tudo, gostaria de agradecer às três senhoras por estarem gentilmente dispostas a serem entrevistadas, ao Eric Iversen e Will Norman por permitir que essa entrevista acontecesse, e também ao meu grande amigo Weslley Francisco (do Supremes Archive) pelo apoio.

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JC: As senhoras são conhecidas por suas participações em renomados grupos musicais, colaborações com inúmeros cantores e composições incomparáveis. No início da carreira, quais foram suas maiores influências musicais e quais cantores lhes inspiravam? Algum cantor brasileiro?

Scherrie Payne: Bem, quando eu era adolescente, meus ídolos eram: Billie Holliday, e Gloria Lynne, que eram renomadas cantoras de jazz. Durante todo o ensino médio, eu adorava ouvir suas gravações. Eu descia para minha sala de recreação, colocava uma luminária e um de seus álbuns para tocar, e cantava todas as músicas, sabia todas as letras. Eu simplesmente as amava! Na verdade, eu provavelmente soava como elas, já que eu as imitava.

E então, conforme as coisas progrediam após o ensino médio, fui para o estado de Michigan; e foi nessa época que a Motown começou a ganhar vida. E, claro, eu amei Nat King Cole, ele era tão bom, e então, Tony Bennett. Mas meu cantor favorito de todos os tempos é Marvin Gaye, eu amo Marvin Gaye. Meu álbum favorito é o “What’s going on?”. Ele estava a frente de seu tempo.

Susaye Greene: Fui influenciada por pessoas de todos os lugares. Havia alguns grupos; muitos grupos brasileiros que eu ouvia enquanto estava crescendo. Mas eu tenho que dizer; Fui influenciada por Johnny Mathis, Tony Bennett, Aretha Franklin e muitos cantores que não eram tão conhecidos. Cantores de jazz, na minha cidade; o jazz me influenciou mais do que qualquer coisa. Donny Hathaway causou um tremendo impacto em mim, na técnica, na escrita, na produção; em apenas ouvir a música, entender como as pessoas fazem certas coisas acontecerem.

Joyce Vicent: Eu não me lembro bem, mas eu era louca por Dionne Warwick. Ela foi definitivamente minha maior inspiração. Eu a amo!

JC: Susaye, além de ser uma ótima cantora e compositora, a senhora domina outros campos da arte. Uma de suas pinturas mais famosas é “The Reunion”, onde abriga todas as Supremas em um retrato. Como esse talento foi descoberto?

Susaye Greene: A pintura é meu verdadeiro dom, além da minha voz. Descobri que podia olhar para algo e reproduzi-lo, como uma mão ou uma fruta; e, então, adiciono cor! Simplesmente me traz tanta alegria, é emocionante para mim. Acho que é algo que me apaixona muito. Tem a ver com ser uma parte importante da minha vida. E ainda o uso para expressar muitos, muitos níveis; coisas que me interessam ou apenas acalmam os olhos, inspiram os olhos e fazem a mente funcionar. Envolve muitos elementos.

JC: Vocês tem planos de reunir Jean, Lynda e Mary para um show comemorativo do 50º aniversário das 70’s Supremes?

Scherrie Payne: Essa é uma pergunta difícil de responder, porque não sei o que se passa na vida delas neste momento. Mary está em carreira solo durante anos, e Jean não tem cantado. Portanto, não vejo a possibilidade disso acontecer, mas milagres acontecem! E seria preciso um milagre, penso eu. Mas não vejo realmente que isso aconteça, e é uma pena.

Talvez se Diana nos telefonasse, e dissesse: “O que podemos fazer para o 50º aniversário?” Iria soar tão estranho! SÃO CINQUENTA ANOS!! Uau.

Mas neste momento, não vejo a possibilidade disso acontecer.

JC: Joyce, além de ser conhecida por integrar originalmente o grupo “Tony Orlando and Dawn”, a senhora seria escolhida para substituir Mary Wilson quando ela deixou as “The Supremes”. Com a adição de Susaye Greene ao grupo, em 2017, como é ver que, 40 anos depois, a tão esperada formação finalmente se tornou realidade?

Joyce Vincent: É incrível ver que algo que começaria quarenta anos atrás esteja acontecendo agora! É simplesmente incrível, ainda não consigo acreditar. Simplesmente não era a hora, sabe? Há quarenta anos. Acho que simplesmente não era a hora. E então aconteceu, eu me sinto tão lisonjeada cantando com essas mulheres.

Joyce Vincent (esquerda) ficou conhecida por fazer parte do grupo Tony Orlando and Dawn, ao lado de Thelma Hopkins./ Source: Live.kixi.com

JC: Vocês já vieram ao Brasil? O que acham do país?

Scherrie Payne: Há muitos anos! E eu amei. Eu só queria poder falar em português; tudo que sei é: “Eu te amo”. Eu acho que isso significa “I Love You” em português. Eu te amo!(risos).

Nós estivemos aí em 1975, se não me falha a memória. Em São Paulo, no Rio de Janeiro, e fomos para um terceiro lugar que não me lembro agora. Mas foi maravilhoso! Eu adorei, adorei! Todos foram tão amigáveis, e fomos passear depois; o público foi tão maravilhoso e caloroso. Foi um momento incrível.

Susaye Greene: Eu amo o Brasil. É tão exuberante! É o tipo de lugar que tem um elemento muito exuberante. As pessoas são calorosas e acolhedoras. A música é fabulosa, a dança é fabulosa. Passei muito tempo em São Paulo, Brasília, por todo o Brasil. E isso tem um lugarzinho guardado no meu coração, porque as pessoas são tão apaixonadas! Há paixão! E eu amo isso, porque eles são tão bonitos, em tantos tons. Andar pelo Brasil é como olhar para um quadro.

Um dia, eu estava parada no meio da rua, à tarde; então, de repente, caiu um aguaceiro! (Risos) E me disseram que isso era normal nessa época do ano. Era tanta água; Eu estava com um macacão que acabou esticando de tão encharcado, e uma saia na altura do joelho que esticou até o chão. Literalmente, nunca vi tanta água saindo do céu. Mas eu me diverti muito. Passei muito tempo na praia, com meu biquíni amarelo bufante. Foi um grande momento.

Eu estava lá com o grupo de Ray Charles (Ray Charles & Raelettes); passamos muito tempo procurando um outro grupo que tínhamos conhecido na Cidade do México, chamado “Luiz Eça y Familia Sagrada”, um grupo simplesmente maravilhoso. Tínhamos feito algum show no mesmo lugar; nós os procuramos e nos tornamos amigos.

Muitos artistas brasileiros ainda se reúnem nas ruas e começam a tocar. É memorável, totalmente memorável.

Joyce Vincent: Eu nunca estive no Brasil! Eu adoraria ir. Tivemos a oportunidade, há alguns anos, que acabou não dando certo. Eu estava muito animada para ir, sabe? Mas talvez ainda tenhamos uma chance. As mulheres daí são tão bonitas! Com certeza eu estaria ansiosa pela comida! Porque se tem uma coisa que eu sei, é que vocês têm uma comida muito boa!

JC: Infelizmente, o racismo ainda está presente na sociedade em várias situações. Recentemente, tivemos o caso do assassinato de George Floyd. Vocês já presenciaram situações como essa ou foram vítima de discriminação racial?

Scherrie Payne: Sim, eu fui. Claro, passei por algumas situações enquanto estávamos voltando ao estado de Michigan, não tão óbvias; estava meio velado. Mas um episódio realmente se destaca em minha mente, na verdade dois.

Quando meu pai e eu estávamos dirigindo de Detroit para Las Vegas, ele estava com outro amigo, seu melhor amigo Ed Bradley Sir; cujo filho, Ed Bradley Jr., co-apresentou o programa “60 Minutes”. Fomos de carro para Las Vegas onde minha mãe e minha irmã já estavam, Freda (Payne) estava trabalhando em um dos hotéis da rua. Mas, no caminho, paramos em Chicago, em um restaurante, para comer. E nós nos sentamos lá, e ficamos sentados, e ficamos sentados; enquanto o cozinheiro inclinava a cabeça e dizia alguma coisa para a garçonete. Finalmente, ela se aproximou e disse: “Desculpe, mas não poderemos atendê-los”. Então nos levantamos e saímos.

Dirigindo, em St. Louis; fomos a um restaurante drive-in onde a garçonete iria até o carro. Acho que queríamos um hambúrguer ou algo assim, a garçonete entrou e, quando voltou, disse: “Sinto muito, mas não podemos dar nada assim. Podemos dar-lhe algo rápido, como sanduíche de atum, para não ter que cozinharmos… ” E o meu pai disse: ” Mas estamos com tanta fome…” e ela disse: “Bom, vocês podem comer algo assim; algo que não precisaremos cozinhar, e levará apenas alguns minutos para preparar.” Então nós aceitamos e seguimos em frente.

Estávamos procurando um lugar para ficar e vimos que o “Holiday Inn” ou “Howard Johnson’s Holiday Inn”, não me lembro bem; dizia ‘vaga’, então paramos. Meu pai e Ed Bradley Sir, que estavam cansados por estarem dirigindo, voltaram e disseram que eles (os quartos) estavam todos ocupados. Mas havia uma placa que dizia ‘vaga’, e então o gerente veio e disse: “Não podemos permitir que negros fiquem aqui”. E ele nos contou sobre algum lugar (aproximadamente) em um lugar perigoso. Então continuamos dirigindo e chegamos a esse lugar, e vimos este motel; nós chegamos lá e o cara se sentiu tão mal por nós que falou: “Estou vendo que vocês estão cansados, vamos deixar vocês ficarem aqui, mas terão que acordar de madrugada pra que nenhum dos nossos outros clientes vejam vocês aqui. ”

Assim fizemos, entramos em um quarto, Ed Bradley Sir dormiu no chão e o meu pai na cama. Acho que era uma cama de solteiro e Ed Jr. dormia na outra, só isso. E então dirigimos para o Novo México, estávamos na Rota 66; íamos a um restaurante e não podíamos ir pela frente. Tivemos que dar a volta pelos fundos e pedir nossa comida.

E foi isso. Essa experiência que tive foi nos anos 50, porque ainda estava no ensino médio, se não me engano.

Mas, outro incidente foi quando eu estava trabalhando em em um musical chamado: Dream Street” no hotel Desert Inn. Eu era uma das estrelas do elenco. Era inverno em dezembro, então estava frio e eu estava estacionando em um estacionamento enorme, e a porta da apresentação estava voltada para o estacionamento. Estava muito frio; não havia outros carros lá, talvez dois ou três, então estacionei perto da entrada do palco.

E havia um segurança parado ali, um cara branco, e ele disse: “Você não pode estacionar aqui”. E eu disse: “Bom senhor, está frio. Eu sou uma das estrelas do musical aqui’ Dream Street’ no showroom principal.” E ele disse: “Você ainda não pode estacionar aqui.” E eu disse: “Está vazio, olha todos esses espaços vazios! Quase nenhum carro; dois ou três carros!” Então continuei andando e, de repente, ele gritou: “Volte aqui, ni**er!” E eu simplesmente continuei andando, e ele disse isso de novo, enquanto eu continueava andando; eu entrei e disse aos membros do elenco tudo o que tinha acontecido. George Fallon, que é um amigo meu até hoje estava lá, ele estava no musical. E mais tarde no show, eu tive que fazer esse número, número solo no palco, como uma peça dramática. De repente, eu comecei a chorar e a chorar, e o público achou que eu era simplesmente brilhante, dramática; mas o elenco sabia por que eu estava chorando, e isso me atingiu de repente. Mas na manhã seguinte, me levantei e fui ao presidente/ CEO do escritório do Desert Inn e exigi vê-lo. Eles me deixaram vê-lo e eu disse a ele o que tinha acontecido, e ele disse: “Oh, não. Não podemos ter nada parecido aqui. Vamos garantir que ele seja demitido. ”E eu disse:“ Bom…”

Então, dois dias depois, descobri que não o haviam despedido; eles apenas o transferiram para outra posição no hotel em frente. Então ele mentiu! Essa foi a minha experiência, então sei como é. É algo que você não pode nem mesmo descrever até que você mesmo tenha passado por isso. Mas fiquei muito feliz quando o Desert Inn teve que fechar, e então foi demolido (risos). Eu não precisava me vingar, Deus se vingou por mim! (Risos)

Susaye Greene: Sim, fui vítima. Acho que tanto os negros quanto as pessoas de cor foram vítimas, em certa medida, do racismo. Desde muito jovem você se conscientiza de que é diferente e é tratado de uma maneira diferente. Às vezes, as pessoas não serão amigáveis com você. Mas uma coisa que fica na minha mente, é quando eu tinha três anos, minha mãe, pai e eu estávamos andando centro da cidade. E eu vi uma espécie de loja, uma sorveteria, e eles tinham um balcão com bancos. Afastei-me de minha mãe e corri para a loja, o que era contra a lei na época. Subi na cadeira da frente para sentar e disse: “Quero uma coca, por favor”. O cozinheiro saiu, e ficou muito irritado com a minha mãe por não me controlar. Ele chamou o nome dela e disse: “Não, saia daqui! Vá embora daqui ”

Só estava tentando pegar uma Coca-cola, sabe?

Sendo apenas uma criança, eu não entendia todas as ramificações disso, mas a garçonete disse a ele “Ela é apenas um bebê. Dê um pouco pra ela”. Eles fizeram isso, e depois nos colocaram pra fora imediatamente. Então o homem quebrou o copo de onde eu havia bebido. Isso te impressiona.

Existe racismo em toda parte. Mas acho que o que aconteceu agora e a inspiração da morte de George Floyd para o mundo é como isso atingiu o mundo como um incêndio na consciência. As pessoas estão falando sobre isso de maneiras diferentes. E há pessoas que foram criadas para serem racistas, muitas, muitas delas aqui na América. Porém as coisas vão mudar como eles mudam; algumas coisas mais rápida do que outras. E é tarde demais para voltar atrás, os jovens, em particular, nunca mais vão desistir disso.

As pessoas têm que amadurecer, porque as coisas estão chegando ao nosso mundo, deveria ser óbvio, eu acho. Estamos no meio de uma pandemia mundial. Isso ilustra que todos somos afetados, de uma forma ou de outra, todos. Alguém pode conhecer um membro da família ou eles próprios foram afetados. O mundo para e, consequentemente, você tem que prestar atenção em algo que é tão grande; especialmente quando é seguido por algo tão grande. Então, todos e todos, estamos no caminho para elevar nossa consciência. É obvio. Se não for óbvio, então as pessoas não estão prestando atenção. E sabemos que isso também acontece. Então, esperamos, vemos e fazemos o que devemos fazer … Faremos o certo!

Joyce Vincent: Há muitos anos! Eu estava na Flórida com Tony Orlando (e Dawn), e você sabe, estar com um grupo que era racialmente misto… Ele era porto-riquenho e nós éramos afro-americanas, então acontecia muitas coisas negativas; Descobri que isso acontecia principalmente no Sul (dos EUA). Então, sim, eu tive alguns incidentes, mas você meio que deixa rolar pelas suas costas e segue em frente.

JC: Susaye, além de sua poderosa voz, a senhora também é conhecida por escrever músicas para artistas de sucesso como Michael Jackson e Deniece Williams. Seu último lançamento “Unconditional Love” é fabuloso. Como se dá o processo de composição?

Susaye Greene: Depende se estou escrevendo sozinha, ou com alguém. Qual é a situação, como você se sente. Existem muitos aspectos que são meio inconscientes.

A questão de ser abençoada o suficiente para escrever canções é que você cria tudo. É divertido! E você meio que vai lidando com isso. Isso vem para você, vem através de você e sai! E é por isso que acredito em reescrever, e reescrevo porque, então, você tem a chance de refinar.

Certas coisas se encaixam em certos lugares. Esse é um tipo universal de lei. E a chave é saber quanto cabe. Essa é a minha filosofia como cantora, como músico, como artista. Como uma pessoa que ama o mundo e a humanidade das pessoas. Coisas que combinam. Em forma. Não precisamos fazer muito além de estarmos abertos a isso.

Scherrie Payne e Susaye Greene foram, respectivamente, a última cantora líder e integrante das The Supremes/ Fonte: Scherrieandsusayeformersupremes.com

JC: Como vocês se sentem sendo uma fonte de inspiração para um grande número de pessoas que trabalham no ambiente artístico, como as Drag Queens?

Scherrie Payne: Bem (risos), eu ainda me sinto honrada e grata que alguém queira nos imitar, especialmente as drag queens. Ainda é uma honra que elas queiram imitar alguém, e alguns fazem isso tão bem! Eu até fui a um show em Chicago, alguns anos atrás com meu amigo, e havia uma drag queen chamada… Scherrie Payne! (Risos) e eu sentei bem ali na frente. Ela veio e cantou “I’m Gonna Let My Heart do The Walking”, e ficou surpresa quando eles me apresentaram. Ela estava tão nervosa. Mas fez um excelente trabalho e estava linda!

Portanto, é apenas uma honra. Eu só não acho que sou uma lenda ou parte dela, sou apenas eu. Eu sou Scherrie … Eu sou uma filha de Deus, e eu simplesmente amo. É para isso que ele nos colocou aqui, para amar. Então é uma benção

Susaye Greene: (Risos) Uau, que pergunta adorável. Porque a maioria das perguntas é extremamente dolorida; Eu nunca tinha escutado isso dessa forma. Todo mundo é gente, por mais fabuloso, extraordinário e exagerado que as drag queens possam ser, ainda são gente; É bom ver os muitos estilos de vida e é emocionante! É uma honra conhecer pessoas com outros estilos de vida!

Joyce Vincent: Nossa, é uma sensação boa! Porque isso é positivo, é positividade o que eles colocam lá. Poderia ser muito pior, mas é realmente um sentimento positivo ver que as pessoas ainda amam a música e os grupos… É apenas um sentimento positivo.

JC: Joyce, que dicas você daria aos jovens que querem seguir uma carreira musical?

Joyce Vincent: A única coisa que posso dizer é que você deve seguir seu coração. O que você sente que foi colocado aqui para fazer, se isso é cantar, escrever, dançar ou seja o que for; se está em seu coração, você tem que segui-lo.

Eu me lembro de ter passado por situações, não vou citar quem falou algumas dessas coisas, onde algumas pessoas falaram: “Por que você começou a cantar? Você não pode ganhar dinheiro cantando!” Mas havia algo em meu coração, e não necessariamente via isso como ganhar dinheiro. Eu apenas olhei para isso como algo que eu amo fazer e vou continuar fazendo. Não sei se serei bom nisso ou não, mas vou continuar fazendo.

Você tem que seguir seu coração, porque se não o fizer, querido… você será apenas uma pessoa infeliz.

JC: Susaye, muitos fãs seguem você nas redes sociais. Vejo que você publica ótimos vídeos e textos reflexivos. Você já pensou em escrever um livro com base em suas reflexões?

Susaye Greene: Sim! Estou trabalhando nisso. No momento, estou compilando algumas coisas. Eu fiz muitos pôsteres populares em todo o mundo que foram inspiradores e fotografei alguns deles. Você sabe, é um dos meus hábitos, adoro fotografia. Muitas delas vêm do meu espírito e do meu coração, e algumas estão apenas reproduzindo verdades que aprendi. Apenas viver para ser legal, entende?! (Risos) Eu já estou aqui há muito tempo, vivi muito! Nós sabemos o que nos aconteceu, qual é a nossa experiência.

Existem algumas experiências que nos animam quando você está para baixo; ou isso faz você ver as coisas de forma diferente. Acho que todo mundo precisa disso, principalmente em um momento como este. Precisamos saber que podemos ter esperança. E não desistimos! Não dá para desistir aqui, temos a chance de fazer tudo.

Sinto muito minha mortalidade, embora me sinta bem fisicamente. Mas sinto, sei o que está acontecendo no mundo, e não há imortalidade, exceto, talvez, no legado que deixamos. E estou disposta a compartilhar essas coisas com o mundo.

JC: Scherrie, um dos momentos mais memoráveis para os fãs da banda, foi quando Florence Ballard (fundadora do grupo) foi convidada para o palco durante o show das Supremes no Magic Mountain. Como você descreveria esse momento histórico?

Scherrie Payne: Nossa João, aquela foi uma noite mágica. Eu nunca esquecerei disso. Posso até me lembrar do que ela estava vestindo. Ela tinha vindo para a cidade, estava visitando Mary Wilson, e Mary a convidou para o show do Magic Mountain. Lembro que quando Mary a trouxe para o palco, o público enlouqueceu! Eles ficaram absolutamente loucos!

Estava Mary, Cindy Birdsong e eu. Foi uma noite mágica. Florence parecia estar bem. Não me lembro se ela chegou a cantar com a gente, pode ter cantado, não me recordo bem; Isso foi há muito tempo atrás.

Mas aquela foi uma noite mágica. Acho que ela estava vestindo uma roupa floral verde, calça e um top pequeno. Ela foi tão doce naquela noite; foi uma noite mágica para ela também. Acho que trouxe de volta muitas memórias que ela guardou até o dia em que faleceu, eu acredito.

JC: Suas músicas ainda são reproduzidas nas plataformas de rádio e streaming. Como vocês se sentem sabendo que existem jovens na faixa de 14,16 e 18 anos que apreciam a música ajudam a manter o legado vivo?

Scherrie Payne: Uau, realmente me surpreende que as crianças pequenas conheçam a música das Supremes. Veja há quanto tempo isso foi… Nos anos sessenta! Estou velha agora! Acho que algumas pessoas podem dizer: “Oh, não. A idade nada mais é do que um número! ” Mas eu tenho que ser realista, estou na velha geração agora.

Como quando meu primo me perguntou: “O que aconteceu com todos os nossos parentes antigos?” e eu disse: “Somos os parentes antigos agora!”

Mas é realmente uma honra que essas crianças apreciem a música desde então. E embora eu não tenha gravado os hit originais (com a formação Diana, Florence and Mary — e Cindy posteriormente), nós os cantamos então, eu sinto que sou parte delas. Mas independentemente eu não ter cantado nas gravações originais, seja o que for; Me sinto honrada, apenas honrada. Estou tão feliz que Deus tenha me abençoado com esta posição, nunca imaginei que um dia eu faria parte do grupo feminino número um do mundo. E, tão feliz que Mary Wilson viu em mim o que ela pensava que era necessário para o grupo quando Jean decidiu que queria sair. Devo isso, um débito de gratidão à Mary Wilson, que foi uma suprema original; ela merece todos os elogios. Me sinto muito feliz e muito abençoada. Me sinto abençoado, honrada e grata quando um jovem menciona meu nome ou quer conhecer sobre nosso passado — como você, João –. Isso realmente me deixa honrada e grata. Obrigada! Obrigada, João, por fazer este projeto e por ter interesse em dar continuidade ao legado. Muito obrigada.

Susaye Greene: Isso é lindo, não é? É uma benção. Somos abençoadas por acordar todos os dias e ainda estarmos aqui para fazer isso. Estamos muito focadas no que fazemos, estamos muito entregues. É uma circunstância extraordinária; tocar para muitas pessoas é uma coisa muito abençoada. E você dá o que você tem.

Nós somos muito gratas que as pessoas venham nos ver. E falem conosco, e compartilhem conosco as coisas que eles guardam ao longo dos anos. As memórias que eles têm. Eles se tornaram nossos amigos, você sabe. Estão no mundo inteiro! Uma benção.

Joyce Vincent: Bem, é incrível ver que as pessoas ainda apreciam nossa música, e os mais jovens estão entrando nisso. A música que foi gravada aos quarenta ainda é boa música! Então, esses jovens provavelmente foram influenciados por seus avós ou pais, e passaram a gostar também. Eles estão interessados, e isso é boa música, de antigamente!

Quanto a Tony Orlando and Dawn, ainda temos alguns fãs, e temos os mais jovens, pessoas que nem eram nascidas na época em que a música foi lançada. E então eles ouvem, e não importa a idade da música ou do artista; eles simplesmente gostam de boa música

Florence Ballard — fundadora das The Supremes — no palco durante um show do grupo no Magic Mountain / Fonte: Scherrieandsusayrformersupremes.com

JC: Scherrie e Susaye, vocês pretendem adicionar as favoritas dos fãs, às suas performances? Como “Come Into My Life“, “We Should Be Close Together

Scherrie Payne: Vamos ver …” Come Into My Life “e” We Should Be Closer Together”, eu gosto de ambas as músicas. Eu não ouço isso há anos! É uma boa ideia. Tenho que falar sobre isso com Susaye Greene (a última Suprema), e Joyce Vincent (ex-integrante de Tony Orlando e Dawn) minha querida amiga desde o final dos anos 60, eu estava na Invictus Records quando conheci ela e sua irmã Pam. Essa é uma possibilidade! É sempre bom ter um pouco de nostalgia e voltar no tempo.

Susaye Greene: Eu creio que todas as músicas são possíveis!

JC: E “You’re What’s Missing in My Life“?

Scherrie Payne: Eu nunca fui fã de “You’re What’s Missing in My Life”. Acho que foi porque, quando estávamos cantando, parecia que estávamos competindo, então eu não sei. Tenho que ouvir de novo, posso mudar de ideia. Quem sabe?”

JC: Durante esse período de isolamento social, o que vocês têm feito para ocupar a mente? Quais conselhos vocês partilhariam conosco?

Scherrie Payne: Uau. Bem, alguém me perguntou se eu tenho trabalhado em minhas escrituras, porque eu escrevo roteiros, peças de teatro e coisas assim. Eu escrevi vinte e um roteiros e cinco peças de teatro. Então, eles presumem que eu apenas escrevi com prestígio, mas não. Eu não escrevi nada. Eu escrevi ideias ou, talvez, uma linha de diálogo aqui e ali. Acabei de limpar as coisas; Tenho tentado me organizar porque meu quarto estava uma bagunça total. Eu tenho tantas coisas, tantas lembranças, e está em toda parte. Preciso me organizar mais, e estou usando esse tempo para isso.

Tem sido difícil, alguns dias fiquei muito deprimida. Eu sou uma pessoa criativa; Tenho que ser criativa porque sofro de depressão. Às vezes eu assisto algo na TV que me inspiraria, ou pode ser uma literatura espiritual que eu li, então, eu oro. Falo com Deus o tempo todo, especialmente quando estou no carro; Estou sempre conversando com Deus. E isso é importante, ter um relacionamento especial com Deus, porque estamos aqui para servi-lo, amá-lo e amar os outros. Isso é o que está me mantendo; minhas orações, as orações dos outros, eu sei que as pessoas estão orando por mim.

Às vezes preciso me fazer feliz. Eu examinei um monte de fitas cassetes antigas que encontrei, pelo menos duzentas fitas, talvez mais. Há muita música nele, de anos atrás; Eu tinha esquecido tudo sobre isso. Agora estou examinando todas as minhas fitas cassetes e jogando fora algumas coisas que não tem serventia. Encontrei músicas de musicais, músicas que descobri e das quais havia esquecido: “Uau! Esta é uma ótima musica. Que grande empurrão.” Aí fico deprimida porque não agi de acordo; Mas encontrei músicas realmente boas nessas fitas, e ainda tenho muito que fazer. Acho que Deus diminuiu esse tempo para eu fazer isso, me organizar. “Prepare-se, Scherrie. Eu te dei tudo isso, te dei roteiros, peças de teatro, e te dei música e você não fez nada com elas. Agora você fica ocupada! E faça algumas dessas músicas! ”

Eu gostaria de fazer um CD com as músicas que escrevi, e algumas delas nunca foram gravadas ou publicadas. Então é isso que tenho feito, tentando colocar minha vida em ordem.

Susaye Greene: Bem… Você pega uma criança de oito e uma de seis e você lê; você corre; você nada; você ri muito; você faz sanduíches e suco, e então elas estão na escola!

Então, além disso, quando não estou fazendo minhas outras pequenas atividades que preciso fazer; Estou sempre trabalhando em projetos, sempre trabalhando no futuro. Queria que os dias pudessem ser um pouco mais longos, gostaria de ter um pouco mais de tempo para fazer outra coisa.

Estou animada, estou desenhando agora. Também estou no início de um projeto enorme; um projeto mundial! Eu acho que será uma inspiração por si só, e estou muito feliz por estar envolvida. Já trabalhei com música, gravei e posso fazer isso em casa, felizmente. Estou fazendo vocais para coisas minhas nas quais estou trabalhando. Estou sempre escrevendo algo, no momento. Estou muito produtiva. Quando estou escrevendo, coloco coisas no meu telefone ou no meu Mp3, ou qualquer outra coisa. Há tantas outras coisa, há comida, há jardim e … vida, sabe? Viva a vida! (Risos)

Joyce Vincent: Então, estamos trabalhando em algumas músicas novas e enfrentando essa pandemia, período de confinamento, para fazer um monte de coisas que você simplesmente deixa de lado, ou adia e faz mais tarde, e o mais tarde é agora. Então, estamos trabalhando em muita música, música nova! Estou realmente animada!

JC: Para encerrar a entrevista, que mensagem vocês gostariam de deixar para os fãs?

Tradução:

Scherrie Payne: Acho que minha mensagem final para todos vocês seria, como diria Diana: “Reach Out and Touch” (estenda a mão e toque). Seja amoroso, seja gentil. Nós precisamos um do outro. Estamos todos no mesmo barco, especialmente durante este tempo. Seja verdadeiro consigo mesmo. Persiga seus sonhos; Deus lhe deu os sonhos, então, persiga-os, não os deixe ficar para trás. E seja bom consigo mesmo! Claro que vai haver pessoas que vão te criticar, nem todo mundo vai ser “super amoroso” com você; mas você sabe quem você é, Deus o fez.
Apenas sonhe, sonhe grande, sonhe alto! Não desista, continue perseguindo seus sonhos. Seja feliz, seja amoroso. Estamos aqui apenas por um curto período, então, aproveite todo esse tempo. Lembre-se de que você é filho de Deus. Dê a ele honra e glória; porque sem ele você não pode fazer nada, você não pode ser nada, você não pode alcançar nada; e se você fizer isso, sem a ajuda dele, não vai durar. Mas eu estou te dizendo, uma vez que Ele abre a porta, ninguém pode fechá-la! Então, não tenha medo de sonhar. Não tenha medo de alcançar alto, alcançar o céu

Susaye Greene: Acho que as pessoas realmente sentem falta de sair, todos nós. Isso nos afetou… A situação em que estamos afetou a todos nós. E nós temos que, meio que superar. Seja paciente. Existe a oportunidade de ser ativo ainda, agora por causa da tecnologia. Graças a Deus temos isso, caso contrário, estaríamos realmente isolados. Mas temos que voltar, talvez de uma maneira próxima. Todos podemos tirar um tempo, se você puder e se quiser; apenas descubra o que você realmente quer da vida agora. Você não tem que fazer o impossível acontecer ou mudar tudo. Faça o que você faz, faça o que você ama fazer. E eu sugiro que você faça isso agora! Faça isso agora. Por que não?
Você pode ver, podemos ver os números, 12 milhões de pessoas têm Covid! Então você sabe. Conhecemos os lugares mais afetados em todo o mundo; sabemos que o Brasil tem problemas e sabemos que a América … Conhecemos os lugares no mundo que são afetados. E eu digo: seja sensato. Tente viver, tente viver e seja teimoso com os ideais. Não seja apenas teimoso com seus ideais, mas não seja teimoso com novas coisas e oportunidades, especialmente se elas podem salvar sua vida.
Quero estar aqui além dos chats (de conversa). Há tantas coisas que eu gostaria de fazer. E eu quero que, você particularmente, que é tão jovem e vibrante, que tem garra; e força pra fazer e falar coisas. Fale ! Faça! Procure construir um mundo para todos nós, que seja um lugar bom, seguro, e correto. Diga-os e faça-os. Mas procure fazer um mundo para todos nós, que seja um lugar bom, seguro e certo. Olhe para o bem! E vamos tentar; apenas tente mover o mundo agora. O mundo tem a chance de mudar, agora. Seja alguém que lutará para fazer isso.
Porque cada um de nós tem uma voz! Cada um de nós tem um coração! E uma alma e um espírito! E isso conecta o homem com o tempo para alcançar uma consciência superior.
Isso é tudo o que tenho a dizer. Fiquem seguros e fiquem bem. Eu amo vocês. Eu amo vocês.
Eu amo vocês incondicionalmente. Obrigada por me amarem e me apoiarem.

Joyce Vincent: Aguenta firme. Faça o que você curte; o que você gosta; o que você ama fazer. E não deixe que ninguém te ponha para baixo, porquê haverá pessoas que tentarão te colocar para baixo, ou mexer com alguém. E isso não é bom, porque você acaba se torturando pensando “Por que eu não fiz o que eu queria, do jeito que eu queria?”

É isso que você tem que fazer! Por que, você sabe, você chega na minha idade e começa a se sentir mal porque você não fez o que deveria ter feito… E, então, você fica se maltratando. Então, só siga o seu coração!

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Esta entrevista foi ao ar dia 14 de Outubro de 2020.

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